30 de abril de 2012

Deixem as crianças serem crianças

A actual educação estraga as crianças - Eduardo Sá

Foi assim que iniciou a sua palestra no Colégio de Nossa Senhora do Alto, em Faro, uma iniciativa promovida em colaboração por aquela instituição e pelo Centro de Formação Ria Formosa sobre o "Envolvimento Parental na Escola".

Perante um auditório com cerca de 280 pessoas, o conferencista afirmou que "a estrutura tecnocrática, em que se transformou a educação, faz mal" e criticou o "furor da formação técnica e científica" que levou ao esquecimento de que "o melhor do mundo não é a escola mas as pessoas e, em particular, as relações familiares". Lamentando a ausência de uma lei de bases para a família e para a criança, Eduardo Sá lembrou que "há aspectos muito mais importantes do que a escola na vida das crianças", como a família. "Estamos a criar uma mole de licenciados e de mestres aos 23 anos que esperamos que sejam ídolos antes dos 30 e o fundamental não é isso", lastimou, lembrando que "estamos a exigir aos nossos filhos que sejam iguais a nós: que ponham o trabalho à frente de tudo o resto", esquecendo-nos de brincar com eles.

O conferencista considerou que "criámos uma ideia absurda de desenvolvimento" e lembrou que "a vida não acaba aos 17 anos com a entrada no ensino superior". "Só os alunos que tiveram pelo menos uma negativa no seu percurso educativo é que deviam entrar no ensino superior porque estamos a criar uma geração de pessoas imunodeprimidas", defendeu, sustentando que "errar é aprender".

Eduardo Sá disse achar "uma estupidez" crermos que tecnocratas sejam "sempre mais inteligentes porque dominam a estatística", "inacreditável" que "o mundo, hoje, privilegie o número à palavra" e um "escândalo" que, "nesta sociedade do conhecimento, não perguntemos até que ponto é que mais conhecimento representou mais humanidade". "Este mundo está felizmente a morrer de morte natural. O futuro vão voltar a ser as pessoas", congratulou-se, considerando a atual crise uma "oportunidade fantástica que temos a sorte de estar a viver". "Esta crise representa o fim de um ciclo que aplaudo de pé. Este furor positivista está felizmente a morrer", complementou, considerando que "o custo do positivismo foi a burocracia e a tecnocracia"."Acho ótimo que possamos reabilitar algumas noções que parecem ferir os tecnocratas e que são preciosas para a natureza humana. Acho inacreditável que, depois do positivismo, a fé tenha passado de moda porque a fé é uma experiência de comunhão entre as pessoas", acrescentou.

Eduardo Sá defendeu que as "educações tecnológicas" possam dar lugar à "educação para o amor" como "a questão mais importante das nossas vidas". "Acho fundamental que tenhamos a coragem, a ousadia e a verticalidade de dizer que a maior parte das pessoas se sente mal-amada e acho fundamental explicar aos nossos filhos que é mentira que acertemos no amor à primeira e que é notável aquilo que se passa dentro do nosso coração", afirmou.

Neste sentido afirmou que "devia ser proibido dizermos aos nossos filhos que se deve casar para sempre". "Sempre que namoramos mais um bocadinho, casamo-nos mais um pouco e sempre que deixamos de namorar, divorciamo-nos em suaves prestações", concretizou a provocação, considerando o casamento tão sagrado como frágil. "É uma experiência sagrada porque duas pessoas que decidem comungar-se é uma experiência tão preciosa que é sagrada, mas é frágil porque, às vezes, os pais estão tão preocupados com a educação dos filhos que se esquecem de namorar todos os dias", lamentou, lembrando que "pais mal-amados tornam-se piores pais". "É fundamental que a relação amorosa dos pais esteja em primeiro lugar, antes da relação dos pais com as crianças", sustentou.

Eduardo Sá defendeu que "as crianças devem sair o mais tarde possível de casa" e jardins de infância "tendencialmente gratuitos para todos". "Não se compreende como é que a educação infantil e o ensino obrigatório não são a mesma coisa", criticou, lamentando que os governantes, "nomeadamente a propósito da crise da natalidade", não perguntem: "quanto é que uma família da classe média (se é que isso ainda existe em Portugal) precisa de ganhar para ter dois ou três filhos num jardim de infância".

O psicólogo defendeu ainda jardins de infância onde as crianças "brinquem e ouçam e contem histórias", tenham educação física, educação musical e educação visual.
"O ensino básico não é muito importante senão para que, para além de tudo isto, as crianças tenham português e matemática", disse, considerando ser "mentira que as crianças não tenham competências para a aprendizagem da matemática". "É ótimo brincar com a matemática mas a matemática sem o português torna-nos estúpidos. Não consigo entender que este país não acarinhe a língua materna", criticou.

Eduardo Sá disse ainda não achar que "mais escola seja melhor escola", criticando os blocos de aulas de 90 minutos porque aulas expositivas daquela duração são "amigas dos défices de atenção". "Acho um escândalo que as crianças comecem a trabalhar às 8h, terminem às 20h e que tenham, entre blocos de 90 minutos, 10 minutos de intervalo. Quanto mais as crianças puderem brincar, mais sucesso escolar têm", defendeu, acrescentando que "os pais estão autorizados a ser vaidosos com os filhos mas proibidos de querer a criar jovens tecnocratas de fraldas". "Devia ser proibido que as crianças saíssem do jardim de infância a saber ler e escrever", advertiu.


A terminar, defendeu ser possível "ter sucesso escolar" e "gostar da escola". "Tenho esperança que um dia as crianças queiram fugir para a escola", concluiu.



Concordo com quase tudo....

Alguém me explica porque é que o meu filho de 5 anos na pré já faz fichas de avaliação e já tem de saber contar silabas? (e isto foi só o que vi na ficha assim de relance porque estava na mão da educadora).... e segundo a educadora isto é um dos objectivos impostos pelo ministério da educação.
Eu fico parva... E deixarem as crianças brincarem? 
Acho que muito de nós nem sequer frequentamos uma pré ou coisa do género e não é por isso que somos menos ou mais inteligentes. 
E a educadora só me diz que ele devia ter entrado aqui nesta pré logo em setembro porque agora já ia mais avançado e tal... mas ele entrou na pré em Setembro, mas em outra em que a educadora (mais velha) defendia que na escola primária é que se aprendiam essas coisas.. ela iria ensinar e reforçar as coisas básicas... escrever o 1º nome, cores, etc. Bolas... deixem os miúdos brincarem... deixem-nos serem crianças...
Acho ridículo crianças de 3 anos a terem aulas de informática e coisas assim tão avançadas.
Que tenham ginástica, música... Promovam uma vida saudável e a cultura em vez de quererem criar os tais "génios de fraldas". 
 


5 comentários:

  1. olha... eu as vezes acho q o infantário do H. deve ser uma rebaldaria... n há reuniões c os pais a toda a hora, n me entregam fichas de avaliação de competencias... a unica coisa q me entregam é a cada trimestre os trabalhinhos q eles fizeram... qd lá chego estão sempre na brincadeira ou a dançar ou a fazer algo tipico da idade (tb ja os tenho apanhado a ver tv qd chego um pouco mais tarde), mas ainda outro dia cheguei mais cedo e estavam todos aos saltos c o radio bue alto a dançar feitos crianças de 3 anos... fazem ginástica na brincadeira e cantam canções, e mtos desenhos... mas realmente n me aparecem relatorios de competencias e capacidades estupidos como já tenho visto por ai... fico feliz por isso :)

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  2. concordo e sou a favor, deixem as crianças ser crianças... ainda no outro disse o meu M. ao Vasco, andas com esse peluche que vergonha já não és nenhum bebé, anda sempre a implicar com os brinquedos dele, Meus Deus, ele tem 8 anos, deixa-o brincar, deixa-o ser criança,...vai guardá-los para quando for grande? Haja paciência...ao Sábado deixo-o brincar ao ar livre na casa da minha irmã, na terra, a jogar à bola, implica sempre, porque se suja, porque se magoa, ou por isto, ou por aquili, mas eu imponho-me, deixa-o soltar-se ser uma criança enquanto ainda é tempo... ele só age da maneira que teve a sua educação, cheio de regras, cheio de pontapés do pai...eu não deixo, é meu filho também...fico triste mts vezes destas acções dele...e sei que não fazem nada bem ao V. mas não vejo outra forma...BJS, gostei de ler e adoro esse psicólogo.
    Isabel

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  3. Na qualidade de educadora de Infância (que sou), deixem-me dar os parabéns a esta mãe! Alguém percebeu que o pré-escolar é para consolidar competências mas essencialmente é para Brincar. Sim temos de fazer observações /avaliações de um processo, mas dai a fazer fichas de avaliação!! Não trabalhamos com o mesmo método eu e a Educadora do seu filho. O ministério da educação Obriga-nos a fazer tais barbaridades, são as aulas assistidas se queremos mudar de escalão, são as fichas de observação/avaliação quantitativas(a novidade que nos querem impingir), mas cabe-nos a nós educadores e a vós pais, manifestar o descontentamento e no meu caso a recusa a tais coisas. Sou Educadora de Infância não professora do 1º ciclo. Parabéns pelo blogue e também pela indignação. Deixemos as crianças brincar ou qualquer dia deixam de ser crianças cedo demais!
    Beijocas

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  4. É de facto algo que me deixou a pensar... principalmente aquela parte em que fala da lingua materna...
    Como sabes, a minha Sofia terá o espanhol como primeira lingua e é nisso que estou a pensar agora mesmo. Vai entrar para a pré-escola, vai ter inglês e informática, mas ninguém me disse que iria aprender o castelhano...
    De verdade, só espero que sejam actividades ligeiras e que a maioria do tempo a passem a brincar e a ser crianças... este tema á complicado...e com estas coisas vou aprendendo e vou estar atenta ao que será a vida da minha filha na pré-escola.

    A ti Márcia, obrigado por este post, de verdade vale muito a pena ler-mos este tipo de coisas e pensar-mos em que estamos a tornar a nossa sociedade.
    Uma grande beijoca! Liliana :)

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  5. Adorei o post. E concordo a 100% com tudo, destacando a parte da importância de ensinar aos filhos que é mentira que acertemos no amor à primeira, e que 'namorar' sempre mantém um casamento/relação saudável para os pais e para os filhos.
    O meu T. está com quase 5, e está em uma creche no Brasil, quando eu pergunto a ele o que aprendeu na escolinha hoje ele diz-me 'ah mãe, a gente aprende essas coisas de ser amigo dos outros meninos, que não pode bater e brigar, que temos de ser educados, que temos de respeitar os mais velhos, elas contam histórias, cantamos, dançamos, aprendemos as cores...essas coisas que tu e a avó também ensinam sabe?' =)
    Fico feliz, porque é assim que deve ser, cada coisa na idade certa.
    Ele tem a vida toda pela frente para aprender a ler, a fazer contas e a ser contaminado pelos computadores e videojogos.

    Beijinho e obrigada por partilhar coisas interessantes!

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Obrigada pelo teu comentário, até breve :)